sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

liberdade

(hey gringos - i'll post some translations in the next day or two.  i promise).


uma das coisas que mais me encantou na minha primeira visita ao brasil em 2002 foi a sensação de que diferentes perspectivas e pontos de vista estavam brotando em todo canto e assumindo várias formas:  hip-hop, funk, e samba, teatro do palco e da rua, discurso político do palanque e do boteco.  por eu entender muito menos na época, tanto da língua portuguesa quanto da sociedade brasileira, acho que percebi muito menos de certos tipos de tabu e auto-censura que hoje vejo mais facilmente.  mesmo assim, ao longo do tempo que tenho passado no brasil, sempre fiquei impressionado com a variedade não apenas das opiniões que eu ouvi, mas com a diversidade de expressão que aqui existe.

porém...

fico muito nervoso com os casos de censura pesada surgindo por aqui atualmente, principalmente entre são paulo e rio de janeiro,  lugares sempre dados como o eixo cultural do país.  nem falo da desocupação na segunda-feira:  por mais que seja um exemplo muito óbvio de censura social, vejo a violência e irregularidade da ação policial como padrão infelizmente previsível.

mas na quarta-feira, quatro cantores do complexo do alemão foram presos por cantar.  são funkeiros, e foram presos acusados de fazerem apologias ao crime.  não conheço a musica deles, e nem a lei sob qual serão processados.  mas nem me importo. pode ser exemplo da minha gringuice, mas sempre entendi liberdade de expressão como um direito de dizer coisas que talvez não sejam defendidas ou permitidas pelos órgãos oficiais da sociedade.  ouvindo o raciocínio deles comparado ao da delegada que os prendeu no vídeo abaixo, acho que fica muito óbvio que os funkeiros entendem a liberdade da expressão muito melhor do que a delegada, que parece juntar qualquer desculpa para proibir o que ela não gosta.


sempre vi no caso do brasil uma consciência de que censurar opiniões não populares é coisa da ditadura.   penso que há um reconhecimento geral no brasil de que os anos de chumbo em nada ajudaram o país, e que a transição à democracia tem que ser valorizada; tem exceções, é claro, mas me parecem cada vez mais restritos a velhos bêbados que conheço na rua, ou então a revista veja.

porém...

o caso dos funkeiros é muito preocupante.  hoje, saiu no globo a notícia da prisão do mc dido, de borel, na qual a advogada disse que pedir para as upps saírem não é adotar uma postura política, e sim "instigar crime".  (não consigo achar o link, mas estava na versão impressa).  

enquanto isso, estourou hoje a notícia de que uma videografa do teatro oficina perdeu a guarda do seu filho por trabalhar num teatro experimental que trata de temas sexuais.  a carta polêmica do zé celso explica o caso muito melhor:


acho que minha maior dificuldade diante  esses casos é ver como um individuo com poder, ou com as ligações precisas, consegue fazer esse tipo de repressão rolar.  pelo que eu entendi, no caso da ditadura teve um esforço centralizado, era todo um sistema sincronizado que agiu para inibir a livre expressão.  nas grandes censuras desta semana, porém, parece ser pessoas vingativas e suficientemente poderosas para realizar a repressão que quiserem como programa pessoal.

a boa notícia, escondida dentro de todo isso, é que o vídeo de cima saiu no site do globo, pela repórter ludmila curi, uma conhecida minha que tem feita dois grandes trabalhos essa semana.  indico também seu tratamento da expulsão na segunda-feira:


é muito bom saber que tem gente usando o poder da grande mídia para mostrar as várias hipocrisias e abusos ao nosso redor.

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