terça-feira, 14 de dezembro de 2010

de prédios e praias

quem mora no rio de janeiro provavelmente já ouviu da desocupação violenta, desnecessária, e ilegal que houve ontem na lapa, na avenida mem de sá quando um grupo de sem-tetos e seus apoiadores foram tirados do lugar à força pela polícia militar (apesar desse tipo de ação estar muito claramente definido como tarefa da polícia federal).  o prédio escolhido está abandonado faz mais de 20 anos, e legalmente não tem dono.  o último proprietário foi INSS, dono de vários prédios abandonados no rio de janeiro, que tende a requer à policial para violentar os ocupantes dos seus prédios em vez de se preocupar com a segurança social deles.



vídeo da violência policial:



a ocupação, feita em grande parte por mães solteiras e suas famílias, foi feita de uma maneira inteiramente pacífica, mas a polícia atacou manifestantes com spray de pimenta, gás lacrimogêneo, e até balas de borracha.  onze pessoas foram presas, e uma delas, que é professor estadual, foi acusado de sequestro por supostamente ter impedido a entrada da polícia no prédio (tudo bem que sequestro tem muito mais a ver com impedir a saída de alguém, mas não dá como cobrar lógica numa situação dessas). a brutalidade polícial foi tão exagerada que até a imprensa carioca, que costuma defender qualquer ação policial como um ato de salvação moral e social, condenou claramente a reação dos policiais, e a contrastou com o conduto pacífico dos manifestantes. 


artigo do dia: 


acho essa reação midiática extremamente importante, mas apesar do globo colocar a história na capa e deixar bastante claro que a polícia agiu de um jeito truculenta, repressor, e ilegal, acho que a notícia mais de hoje reveladora foi outra. bem escondida na coluna “gente boa” do segundo caderno, o colunista joaquim de ferreira santos avisa que a prefeitura vai instalar cadeiras altas nas praias do rio para os agentes de ordem pública “coibir altinhos, frescobol, e aplicar o choque de ordem 2011”.

é claro que não vejo na repressão de frescobol um notícia mais importante do que na notícia da repressão dos sem-teto.  é que repressão policial não é mais novidade no rio de janeiro. atitudes truculentas e ações ilegais não surpreendem mais ninguém.  qualquer aglomeração é vista como suspeita, e spray da pimenta é utilizado como a primeira medida contra qualquer atitude julgada a ser não-obediente.  até alexei barrionuevo, correspondente da américa do sul do new york times, escreveu na semana passada sobre os vários abusos de poder durante a invasão do alemão.  e ele é um cara que costuma ver dilma como representante da extrema esquerda e apontar a época pinochet como a mais bem-sucedida na história do chile.

é claro, também, que acho muito mais importante divulgar a história da ocupação. mas ver a prefeitura gastando dinheiro público e se esforçando para inibir a quem estiver se divertindo na praia é mais uma mostra de quanto o espaço da cidade não pertence mais aos seus moradores. quem procure se relacionar com o espaço público da cidade, seja procurando abrigo em um prédio que pertence ao povo brasileiro ou simplesmente procurando lazer nas praias, é alvo de punição de autoridades cada vez mais preocupadas em atrair o dinheiro que vai vir de fora com os megaeventos dos próximos anos, e cada vez menos interessadas nos direitos básicos dos seus cidadãos.

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