sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

memórias nova iorquinas

estou muito felizmente de volta no brasil, e super-empolgado para mergulhar novamente na vida d'aqui, nas ruas, becos, praias, bares, e presidios da cidade maravilhosa. na primeira postagem, porém, queria deixar uma pequena lembrançinha dos estados unidos, meu país natal, que eu deixa alguns dias atrás.

escrevo hoje, então, uma simples reportagem dos estados unidos. deixo a reportagem aqui porque a globo mente, que nem o new york times. eles poderiam até te apresentar os acontecimentos atuais mais ou menos como elas são, mas sem um único motivo, sem uma única raiz, sem nada no fundo que não seja inventado, destorcido. assim, as notícias se tornam em algo como uma refeição que se diz completa, mas que, olhando só um pouco mais fundo, se revela como quase totalmente artificial. estou cansado de ver essas notícias papinhas sem sal, ou como se diria em inglês, sem sangue.

por isso, eu trago comigo hoje uma reportagem limitada, mas bem temporada, uma historia sangrada, recem-extraída do meu país ferido, daquele império sangrento.

segunda-feira passada, passei o ínicio da noite em frente ao manhattan correctional center, o maior presidio e carceragem da cidade de nova iorque. lá, desde os meados de 2007, está preso o fahad hashmi, rapaz da minha idade nascido no paquistão e naturalizado norte-americano. o suposto crime dele, que nesses dois anos e meio ainda não foi julgado, é ter deixado um amigo dormir no sofá dele e deixar uma mala de capas de chuva no apartamento. esse amigo apareceu, mêses depois, no paquistão, onde foi capturado por forças norte-americanas supostamente tentando entregar as roupas para al quaeda. fahad hashmi foi preso pouco depois por supostamente ter dado "apoio material" a terrorismo. por isso, já passou quase 1000 dias em prisão solitário, sem direito a ler notícias ou correspondência que não sejam pelo menos 30 dias ultra-passadas (mesmo assim, qualquer leitura que ele recebe passa por censura antes dele recebe-la). desde o final de outubro, fahad perdeu até o direito de ter visita dos pais e advogados. ele está 100 dias sem nenhum contato humano.

e tudo isso só por ter a "sorte" de ser um cidadão norte-americano naturalizado. caso fosse estrangeiro, seria torturado pela cia em guantanamo ou algum "sítio preto" escondido pelo governo em qualquer lugar do planeta fora dos estados unidos.

ou seja: meu país ainda está aguardando as mudanças prometidas há mais de um ano. fahad hashmi foi preso pelo governo bush, mas o caso dele foi revisto pelo procurador do obama, e foi com a autorização do governo atual que ele passou a ser deprivado até dos visitas familiares. obama disse que voltariamos a ser um país respeitado, e que comecaremos a respeitar os tratados globais básicos de direitos humanos. mas continuamos uma terra torturadora, tanto em nova iorque quanto em guantanamo. me parece cada vez mais que reforma não vai vir do governo.

a boa notícia é que, pelo menos em alguns cantos, eu vi uma resistencia começando a se organizar, aglamorar. acho que alguns das pessoas que agiram mais fortemente contra a regime bush estava esperando desesperadamente para ver algum resultado do novo governo. mas já passou mais de um ano, e estamos começando a realizar que obama está aumentando as guerras, que não sabe como fechar guantanamo, que por mais bem-intencionado que até poderia ser (pelo menos em áreas como saúde e educação), não faz a minima idéia de como combater um partido republicano (o do bush) cada vez mais reacionário, brutal, feroz. então as ações populares estão começando. estão começando devagar, mas já dá para sentir uma nova energia.

na segunda passada, fomos 200 pessoas em frente da prisão, cantando, gritando, chorando, apresentando discursos e teatro da rua e músicas contra os abusos que nosso governo chama de "justiça." foi uma aglomeração pequena - o caso do fahad obviamente ainda não chegou à grande imprensa - porém vital. é o ínicio. estou muito feliz estar de volta no brasil, aliviado por ter deixado tudo que os estados unidos para trás (por enquanto). mas fico fortalecido por ter visto que há uma resistência engajada em nova iorque, e que - por mais pequena que seja - está crescendo.

essa semana, morreu howard zinn, grande historiador norte-americano cujo livro "a people's history of the united states" (uma historia popular dos estados unidos) teve e tem um papel crítico no entendimento de muitos americanos sobre o passado genocido e imperialista do nosso nação. dedico essa pequena postagem a ele - que a sua memoria seja uma inspiração, e que a sua luta continue fortalecida!

Nenhum comentário: